Using a digital camera, take a picture to use as a visual representation of yourself as a teacher. Then, explain why you chose this picture and what it represents. The questions below may help you think about it.
a) What does this photo represent?
b) Why did I choose to be an English Teacher?
c) How does teaching make me feel?
d) What do I think my role as a teacher should be?
e) What aspects of teaching seem the most/least difficult to me?
f) What is the best way to teach English in public school?
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
quarta-feira, 23 de junho de 2010
due to 05/07
After teaching a practice lesson this week, sit down and reflect on the experience using the five aggregates as a guide:
Form: describe the classroom context in which you taught and your own physical presence as a teacher. What was the room like? How many students were present? How old were they? What did they look like? What were you wearing, and how did you feel standing in front of the class?
Sensations/feelings: What do you remember hearing, seeing, touching, tasting, or smelling during or after teaching? How did you feel about any of theses sensations? Did anything make you angry? Happy? Sad? Confused?
Conciousness: During the teaching practice, were you ever conscious of any of these sensations or feelings? Did you ever notice them in addition to experiencing them? If not, try to take note of them now. Instead of allowing yourself to be lost in a feeling or sensations, take a step back and reflect on how it feel. For example, if you became angry as a result of a student comment, step outside the anger and consider why the comment was infuriating. Be curious about the anger.
Perceptions: Try to connect feelings or sensations to forms. In other words, reflect on what was going on in the room when the student comment made you angry. Where were you standing/sitting? What was the student doing? What exactly did she/he say? Perception is an important component of consciousness.
Intentionality/actions: What did you say during the teaching? (Be specific as possible). How did you move about the room? Did you modify anything during your lesson, based on the situation? How did you respond/react to student questions, comments or actions? What did you do directly after the lesson ended?
Form: describe the classroom context in which you taught and your own physical presence as a teacher. What was the room like? How many students were present? How old were they? What did they look like? What were you wearing, and how did you feel standing in front of the class?
Sensations/feelings: What do you remember hearing, seeing, touching, tasting, or smelling during or after teaching? How did you feel about any of theses sensations? Did anything make you angry? Happy? Sad? Confused?
Conciousness: During the teaching practice, were you ever conscious of any of these sensations or feelings? Did you ever notice them in addition to experiencing them? If not, try to take note of them now. Instead of allowing yourself to be lost in a feeling or sensations, take a step back and reflect on how it feel. For example, if you became angry as a result of a student comment, step outside the anger and consider why the comment was infuriating. Be curious about the anger.
Perceptions: Try to connect feelings or sensations to forms. In other words, reflect on what was going on in the room when the student comment made you angry. Where were you standing/sitting? What was the student doing? What exactly did she/he say? Perception is an important component of consciousness.
Intentionality/actions: What did you say during the teaching? (Be specific as possible). How did you move about the room? Did you modify anything during your lesson, based on the situation? How did you respond/react to student questions, comments or actions? What did you do directly after the lesson ended?
terça-feira, 25 de maio de 2010
Due: June 10th
Write an essay in which you reflect on your educational memories as a student and preservice teacher. What events stand out to you from your middle or high school education of from field experiences you have had teaching in classrooms? Narrate these events, and then consider why you might remember them. Are they good memories? Bad memories? How do you think they have affected your beliefs about teaching and the qualities of a good teacher? Last, identify any conflicts you can notice between these beliefs and the content of you teacher education program, including information you have learned in field experiences. Consider how you might address these conflicts as you continue your teacher education.
domingo, 2 de maio de 2010
Oralidade x Língua de sinais
SURDEZ
ORALIDADE X LÍNGUA DE SINAIS
ANDRESSA CRISTINA MOLINARI
JULIANA DE LEMOS
Londrina
2010
Voltando à história, o surdo não era considerado humano pelo fato de não possuir linguagem (Moura, 2000), já que esta se desenvolvia com a fala que o surdo não possuía. A idéia de não ser humano decorria do pressuposto de que o pensamento não podia se desenvolver sem linguagem. Sua humanização dependia exclusivamente da habilidade oral que era desenvolvida através do treino de frases prontas.
A partir do século XIV, os educadores passam a considerar a possibilidade da comunicação com o surdo através de uma língua que se baseava no uso de sinais. Uma evidência disso é Pedro Ponce de León que demonstrou que o surdo, ao contrário do que todos pensavam, era capaz de aprender e de raciocinar. Apesar dessa reviravolta, e dos sinais começarem a serem usados, muitos ainda acreditavam que o foco deveria ser na oralidade, uma vez que o surdo vive em um mundo de maioria ouvinte. Portanto, sem a fala, não seria capaz de viver em sociedade.
No filme “Seu nome é Jonas” é possível encontrar sinais que nos levam a afirmar que o preconceito contra o surdo ainda persiste. Para Johann Conrad Amman, por exemplo, o surdo era “pouco diferente de animais” (Lane, 1989). Traços desse pensamento são reconhecidos no momento em que o médico da família de Jonas o diagnostica como “retardado”.
Na tentativa de desenvolver a oralidade de Jonas, lhe é dado um aparelho auditivo que foi recebido com preconceito pelo pai. Tal atitude representa o que infelizmente é comum desde os tempos remotos até a sociedade moderna; o medo do diferente.
As tentativas de oralizar Jonas não estavam tendo resultado. Jonas vivia em um mundo sem língua alguma, incapacitado de abstrair conceitos básicos, como por exemplo, o medo adquirido do personagem "Homem Aranha", visto pelo irmão como herói e por Jonas, um perigo a ser combatido. Essa alienação a que Jonas estava submetido também pode ser vista na fala de Maria (Estudos Surdos 1. Quadros, Ronice Muller de. Cap. 6, pg. 192.)
Antes era calado. Era um silêncio total. Eu não aprendi nada durante muito tempo. Só havia bocas abrindo e fechando. Eu era triste, diferente. Não era só eu. Todos os surdos eram iguais. Surdo não participava de nada, não dava opinião, não aprendia nada.
Levado a uma escola oralista, Jonas é impedido de tentar sua comunicação por sinais. A diretora afirmava que o mundo não era feito para surdos, portanto, ele deveria se adaptar a realidade da maioria. Apesar dos esforços de se oralizar o surdo a fim de igualá-lo perante a sociedade, não é possível uma vez que mesmo aqueles que desenvolvam resquícios de fala, a minoria, não atingirão uma proficiência na língua alvo. “A fala do surdo o denuncia” e aquilo que deveria igualá-lo o leva a dificuldades extremas de adaptação.
É comum as pessoas sentirem certo desconforto ao ter contato com uma pessoa surda. Isso acontece porque não sabem agir diante da situação. Por conhecer apenas os falsos conceitos existentes em relação aos surdos, muitos tendem a se afastar, consideram muito difícil ter contato e acabam por desistir. Esses estereótipos, de que os surdos são limitados para o convívio social, são quebrados a partir da aproximação, e tentativa de compreensão da cultura deles.
A dificuldade que famílias têm de conviver com um membro surdo, se dá ao fato de que se acredita que só a partir da oralidade é que a identidade do surdo aparece, sendo possível a relação afetiva entre eles. Uma vez que essa relação não acontece, ocorre o distanciamento e a exclusão, como foi o caso do pai de Jonas, que apresentava muita dificuldade de se comunicar com o filho e por isso achava que ele deveria ser internado e viver longe da sociedade.
É sabido que as tentativas de oralização fracassaram, pois falar não fazia parte da identidade do surdo e as práticas de frases prontas as quais os surdos eram submetidos eram facilmente esquecidas. Abbé de L’Epée, um dos precursores do uso da língua de sinais foi capaz de reconhecer que os surdos possuíam uma língua, e foi capaz de montar seu próprio sistema para a educação do surdo. Através dessa visão, os surdos passaram a ocupar a categoria humana.
O surdo é considerado como possuidor de uma cultura própria, cultura essa que é fundamentada principalmente na sua maneira de comunicação. Eles possuem uma comunicação espaço-visual que substitui a audição e à fala.
Eles pertencem a um grupo liguistico-cultural distinto da maioria e são comparados aos imigrantes, mas por não terem uma forma de recepção oral estão em desvantagem em relação aos imigrantes e sua produção oral não pode se comparar a de um ouvinte.
Ao contrário do que nós pensamos a cultura surda não é e não deve ser considerada como inferior. A cultura surda, a exemplo do que Carlos Skliar diz, baseando- se em Hegel é diferente por ter suas características próprias.
Como educadores e mais do que isso, como cidadãos devemos ter a consciência e o conhecimento de que o surdo não é um “estranho”, mas sim alguém que se utiliza de outras formas de comunicação, sem ser a oralidade. A importância de se conhecer a surdez é de se fazer possível quebrar a barreira de preconceito e não vê-lo como excepcional. Nossa visão como profissionais da educação é a de que precisamos conhecer a língua de sinais para interagir com o surdo e que estes, por sua vez devem ter por direito aprender a língua para o convívio com sua comunidade, a comunidade surda. A partir do momento que é possível estabelecer comunicação entre surdos e ouvintes, através do trabalho conjunto entre intérpretes, professores e alunos teremos uma concepção mais clara do que é ser surdo, pois seu relacionamento não deve se restringir apenas aos intérpretes.
Referências Bibliográficas
QUADROS, R.M. O tradutor e intérprete de Língua de Sinais Brasileirae língua portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos – Brasília: MEC; SEESP, 2004.
SKLIAR, Carlos. A inclusão que é ―nossa‖ e a diferença que é do ―outro‖
SOUZA, Ely; MACÊDO, Josenete Ribeiro. Inclusão Social do Surdo: Um desafio à sociedade, aos profissionais e a educação. Belém do Pará, 2002. Disponível em: Acesso em 03/02/2009.
Filme “Seu Nome é Jonas”.
MOURA, Maria Cecília, O Surdo: Caminhos para uma Nova Identidade. Rio de Janeiro, 2000. Fapesp.
QUADROS, Ronisse Muller. Estudos Surdos I. Capítulo 6, Um Estranho no Ninho: um estudo psicanalítico sobre a constituição sobre da subjetividade do sujeito surdo.
ORALIDADE X LÍNGUA DE SINAIS
ANDRESSA CRISTINA MOLINARI
JULIANA DE LEMOS
Londrina
2010
Voltando à história, o surdo não era considerado humano pelo fato de não possuir linguagem (Moura, 2000), já que esta se desenvolvia com a fala que o surdo não possuía. A idéia de não ser humano decorria do pressuposto de que o pensamento não podia se desenvolver sem linguagem. Sua humanização dependia exclusivamente da habilidade oral que era desenvolvida através do treino de frases prontas.
A partir do século XIV, os educadores passam a considerar a possibilidade da comunicação com o surdo através de uma língua que se baseava no uso de sinais. Uma evidência disso é Pedro Ponce de León que demonstrou que o surdo, ao contrário do que todos pensavam, era capaz de aprender e de raciocinar. Apesar dessa reviravolta, e dos sinais começarem a serem usados, muitos ainda acreditavam que o foco deveria ser na oralidade, uma vez que o surdo vive em um mundo de maioria ouvinte. Portanto, sem a fala, não seria capaz de viver em sociedade.
No filme “Seu nome é Jonas” é possível encontrar sinais que nos levam a afirmar que o preconceito contra o surdo ainda persiste. Para Johann Conrad Amman, por exemplo, o surdo era “pouco diferente de animais” (Lane, 1989). Traços desse pensamento são reconhecidos no momento em que o médico da família de Jonas o diagnostica como “retardado”.
Na tentativa de desenvolver a oralidade de Jonas, lhe é dado um aparelho auditivo que foi recebido com preconceito pelo pai. Tal atitude representa o que infelizmente é comum desde os tempos remotos até a sociedade moderna; o medo do diferente.
As tentativas de oralizar Jonas não estavam tendo resultado. Jonas vivia em um mundo sem língua alguma, incapacitado de abstrair conceitos básicos, como por exemplo, o medo adquirido do personagem "Homem Aranha", visto pelo irmão como herói e por Jonas, um perigo a ser combatido. Essa alienação a que Jonas estava submetido também pode ser vista na fala de Maria (Estudos Surdos 1. Quadros, Ronice Muller de. Cap. 6, pg. 192.)
Antes era calado. Era um silêncio total. Eu não aprendi nada durante muito tempo. Só havia bocas abrindo e fechando. Eu era triste, diferente. Não era só eu. Todos os surdos eram iguais. Surdo não participava de nada, não dava opinião, não aprendia nada.
Levado a uma escola oralista, Jonas é impedido de tentar sua comunicação por sinais. A diretora afirmava que o mundo não era feito para surdos, portanto, ele deveria se adaptar a realidade da maioria. Apesar dos esforços de se oralizar o surdo a fim de igualá-lo perante a sociedade, não é possível uma vez que mesmo aqueles que desenvolvam resquícios de fala, a minoria, não atingirão uma proficiência na língua alvo. “A fala do surdo o denuncia” e aquilo que deveria igualá-lo o leva a dificuldades extremas de adaptação.
É comum as pessoas sentirem certo desconforto ao ter contato com uma pessoa surda. Isso acontece porque não sabem agir diante da situação. Por conhecer apenas os falsos conceitos existentes em relação aos surdos, muitos tendem a se afastar, consideram muito difícil ter contato e acabam por desistir. Esses estereótipos, de que os surdos são limitados para o convívio social, são quebrados a partir da aproximação, e tentativa de compreensão da cultura deles.
A dificuldade que famílias têm de conviver com um membro surdo, se dá ao fato de que se acredita que só a partir da oralidade é que a identidade do surdo aparece, sendo possível a relação afetiva entre eles. Uma vez que essa relação não acontece, ocorre o distanciamento e a exclusão, como foi o caso do pai de Jonas, que apresentava muita dificuldade de se comunicar com o filho e por isso achava que ele deveria ser internado e viver longe da sociedade.
É sabido que as tentativas de oralização fracassaram, pois falar não fazia parte da identidade do surdo e as práticas de frases prontas as quais os surdos eram submetidos eram facilmente esquecidas. Abbé de L’Epée, um dos precursores do uso da língua de sinais foi capaz de reconhecer que os surdos possuíam uma língua, e foi capaz de montar seu próprio sistema para a educação do surdo. Através dessa visão, os surdos passaram a ocupar a categoria humana.
O surdo é considerado como possuidor de uma cultura própria, cultura essa que é fundamentada principalmente na sua maneira de comunicação. Eles possuem uma comunicação espaço-visual que substitui a audição e à fala.
Eles pertencem a um grupo liguistico-cultural distinto da maioria e são comparados aos imigrantes, mas por não terem uma forma de recepção oral estão em desvantagem em relação aos imigrantes e sua produção oral não pode se comparar a de um ouvinte.
Ao contrário do que nós pensamos a cultura surda não é e não deve ser considerada como inferior. A cultura surda, a exemplo do que Carlos Skliar diz, baseando- se em Hegel é diferente por ter suas características próprias.
Como educadores e mais do que isso, como cidadãos devemos ter a consciência e o conhecimento de que o surdo não é um “estranho”, mas sim alguém que se utiliza de outras formas de comunicação, sem ser a oralidade. A importância de se conhecer a surdez é de se fazer possível quebrar a barreira de preconceito e não vê-lo como excepcional. Nossa visão como profissionais da educação é a de que precisamos conhecer a língua de sinais para interagir com o surdo e que estes, por sua vez devem ter por direito aprender a língua para o convívio com sua comunidade, a comunidade surda. A partir do momento que é possível estabelecer comunicação entre surdos e ouvintes, através do trabalho conjunto entre intérpretes, professores e alunos teremos uma concepção mais clara do que é ser surdo, pois seu relacionamento não deve se restringir apenas aos intérpretes.
Referências Bibliográficas
QUADROS, R.M. O tradutor e intérprete de Língua de Sinais Brasileirae língua portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos – Brasília: MEC; SEESP, 2004.
SKLIAR, Carlos. A inclusão que é ―nossa‖ e a diferença que é do ―outro‖
SOUZA, Ely; MACÊDO, Josenete Ribeiro. Inclusão Social do Surdo: Um desafio à sociedade, aos profissionais e a educação. Belém do Pará, 2002. Disponível em:
Filme “Seu Nome é Jonas”.
MOURA, Maria Cecília, O Surdo: Caminhos para uma Nova Identidade. Rio de Janeiro, 2000. Fapesp.
QUADROS, Ronisse Muller. Estudos Surdos I. Capítulo 6, Um Estranho no Ninho: um estudo psicanalítico sobre a constituição sobre da subjetividade do sujeito surdo.
writing unit
Objetivo
Ler cartas ao leitor, identificar a função social, redigir cartas e enviá-las a redação do jornal ou revista.
Procedimentos
1.Iniciar com leitura dos textos retirados de 3 revistas. (no mínimo 2 notícias sobre o mesmo tema e dividir a sala em grupos para que leiam notícias diferentes) Em seguida deve-se dispô-los em um círculo único.
Nesse processo é necessário:
•Dar um objetivo para a leitura.
• Trabalhar as capacidades de ação
2.Em seguida, deve-se discutir o tema selecionado para fazer o levantamento do conhecimento prévio do aluno sobre o tema, e escrever uma carta ao leitor com seu conhecimento prévio, sem que haja interferência do professor, destinada à redação de uma das revistas abordando o tema (1 refacção)
3.O professor irá iniciar a discussão com o que são essas cartas. Com os mesmos textos, eles irão checar se o que foi discutido se encontra no texto.
•Fazer levantamento de hipóteses sobre o que pode ser encontrado nos textos.
• Os alunos irão verificar a confirmação de hipóteses (em voz alta para aqueles que não tem o texto possam ouvir)
4.Serão entregues exemplos de cartas ao leitor em inglês com o mesmo tema para que os grupos comparem a organização.
•Posição enunciativa
•Variedade lingüística
•Seqüência textual
•Seleção lexical
•Observar o ponto de vista do autor, o tom dado ao texto.
•Verificar se a informação dada na carta retoma, questiona, contradiz, nega uma anterior e/ou apresenta, divulga, avalia, critica uma nova.
•Considerar a presença e a localização no período ou no parágrafo (conjunção, preposição, advérbios, pronome, que contribuem para a formação de sentido
•Tempo verbal
(2 refacção)
5. O professor irá corrigir e avaliar as resposta dos alunos.
6.Um filme relacionado ao tema será apresentado para os alunos discutirem as relações entre o filme e o lido.
7.Reescrever a carta solicitando/pedindo informação/corrigindo algo que foi publicado/ou posicionando-se ao tema. (Última refacção)
Ler cartas ao leitor, identificar a função social, redigir cartas e enviá-las a redação do jornal ou revista.
Procedimentos
1.Iniciar com leitura dos textos retirados de 3 revistas. (no mínimo 2 notícias sobre o mesmo tema e dividir a sala em grupos para que leiam notícias diferentes) Em seguida deve-se dispô-los em um círculo único.
Nesse processo é necessário:
•Dar um objetivo para a leitura.
• Trabalhar as capacidades de ação
2.Em seguida, deve-se discutir o tema selecionado para fazer o levantamento do conhecimento prévio do aluno sobre o tema, e escrever uma carta ao leitor com seu conhecimento prévio, sem que haja interferência do professor, destinada à redação de uma das revistas abordando o tema (1 refacção)
3.O professor irá iniciar a discussão com o que são essas cartas. Com os mesmos textos, eles irão checar se o que foi discutido se encontra no texto.
•Fazer levantamento de hipóteses sobre o que pode ser encontrado nos textos.
• Os alunos irão verificar a confirmação de hipóteses (em voz alta para aqueles que não tem o texto possam ouvir)
4.Serão entregues exemplos de cartas ao leitor em inglês com o mesmo tema para que os grupos comparem a organização.
•Posição enunciativa
•Variedade lingüística
•Seqüência textual
•Seleção lexical
•Observar o ponto de vista do autor, o tom dado ao texto.
•Verificar se a informação dada na carta retoma, questiona, contradiz, nega uma anterior e/ou apresenta, divulga, avalia, critica uma nova.
•Considerar a presença e a localização no período ou no parágrafo (conjunção, preposição, advérbios, pronome, que contribuem para a formação de sentido
•Tempo verbal
(2 refacção)
5. O professor irá corrigir e avaliar as resposta dos alunos.
6.Um filme relacionado ao tema será apresentado para os alunos discutirem as relações entre o filme e o lido.
7.Reescrever a carta solicitando/pedindo informação/corrigindo algo que foi publicado/ou posicionando-se ao tema. (Última refacção)
lesson plan
H1N1 flu stops Italians kissing saint's blood
NAPLES, Italy (Reuters) - Fear of H1N1 flu will stop devout Neapolitans from performing the time-honored ritual of kissing the blood of their patron Saint Gennaro when the city's annual festival begins later this month.
The decision to forbid kissing of the glass phial containing the saint's blood was taken reluctantly by ecclesiastical and city authorities on Monday, and has brought protests from local politicians.
The phial will be put on display in the city's cathedral for a week from September 19 and the faithful will be allowed to touch it only with their foreheads.
Marco Di Lello, national coordinator of the Socialist Party, said the ban would "fuel the psychosis (over flu) which risks becoming unstoppable," and appealed to the archbishop of Naples to try to have the ban revoked.
Last week, a 51-year-old man became Italy's first fatal victim of the H1N1 flu virus, popularly known as swine flu, when he died in a Naples hospital.
In one of Italy's best-known festivals, Saint Gennaro's dried blood is said to liquefy twice a year, 17 centuries after his death. Some Neapolitans fear disaster may strike the city if the "miracle" does not occur.
Legend has it that when Gennaro was beheaded by pagan Romans in 305 A.D., a Neapolitan woman soaked up his blood with a sponge and preserved it in a glass phial.
The substance usually turns to liquid on September 19, the saint's feast day, and on the first Saturday in May. The "miracle" was first recorded in 1389, more than 1,000 years after Gennaro's martyrdom.
More scientifically minded skeptics say the phenomenon is due to chemicals present in the phial whose viscosity changes when it is stirred or moved.
Italy has not been among the nations hardest hit by the H1N1 flu virus, which has spread to at least 177 countries and caused at least 2,800 deaths, the World Health Organization says.
http://www.reuters.com/article/internal_ReutersNewsRoom_ExclusivesAndWins_MOLT/idUSTRE5872DG20090908
1.Based on the title and the picture, describe in some words, what the text is about.
___________________________________________________________________________________________________________________________.
2.Based on your previous knowledge, what words do you expect to find in the text?
swine flu saint health panic
die virus victims disorder
dying hospital psychologist out of control
3.Read the text, and check whether the statements are true or false.
•According to the text, the Saint´s blood makes miracles.
•Saint Gennaro was hanged by Pagans.
•The festival has become famous during the years.
•Catholicism is these people’s religion.
•Marco di Lello talked to the Archbishop to try to stop the prohibition.
4.Marco Di Lello, national coordinator of the Socialist Party, said the ban would "fuel the psychosis (over flu) which risks becoming unstoppable".
Do you agree that preventing certain costumes in people’s routine can make they become psychotics over flu? What is the limit people should have when preventing their lives from the current problem?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5.Complete the sentences taking into consideration what is presented in the article.
a)The prohibition of kissing the glass phial is considered__________________________________________by the church.
b)It is believed that the saint’s blood_________________________________________________________
c)It is said that the real cause for the blood to become liquid in a specific date is_____________________________________________________________
6.Refer to the highlighted words in exercise 5 and fill in the gaps below:
The Present Passive __ formed by VERB BE (am, is, are) + VERB PAST PARTICIPLE.
This verb tense ___ used to focus on ‘what’ rather than ‘who’ and to give importance to the fact and not to the person who is responsible for the action.
7. Complete with the words given in their correct form of the Present Passive:
Take write consider prohibit avoid
a.Articles as “H1N1flu stops Italians kissing saint’s blood” ____ _________ by journalists.
b.Devout Neapolitans ____ ___________from performing the time-honored ritual of kissing the blood of their patron Saint Gennaro.
c.The direct contact with saliva from so many different people ____ _________ a problem, as it can contribute to the infection of the flu.
d.In Brazil and other countries, people who present the symptoms ____ _______ to the hospital as soon as possible.
e.Meetings which provide agglomeration of people ____ _______ in most cities.
8.Knowing that this kind of “miracle” is seen as a fraud and according to the text “More scientifically minded skeptics say the phenomenon is due to chemicals present in the phial whose viscosity changes when it is stirred or moved.” write down why you think they think this way and give your own opinion about this quote.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
9.“The decision to forbid kissing of the glass phial containing the saint's blood was taken reluctantly by ecclesiastical and city authorities Monday, and has brought protests from local politicians.” Why do you think this decision was taken reluctantly:
( ) Because the church and authorities were worried about population’s healthy
( ) Because politicians were worried about fall in tourism
( ) Because people won’t stop kissing St Gennaro’s glass blood
( ) Because it could cause fall in tourism and it would bring fall in economy, what would be terrible for the politician’s pocket.
10.In the last paragraph “Italy has not been among the nations hardest hit by the H1N1 flu virus, which has spread to at least 177 countries and caused at least 2,800 deaths, the World Health Organization says, there’s a message implicit. If you pay attention, this speech has to be with a political and religious idea. Which message is this?
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
NAPLES, Italy (Reuters) - Fear of H1N1 flu will stop devout Neapolitans from performing the time-honored ritual of kissing the blood of their patron Saint Gennaro when the city's annual festival begins later this month.
The decision to forbid kissing of the glass phial containing the saint's blood was taken reluctantly by ecclesiastical and city authorities on Monday, and has brought protests from local politicians.
The phial will be put on display in the city's cathedral for a week from September 19 and the faithful will be allowed to touch it only with their foreheads.
Marco Di Lello, national coordinator of the Socialist Party, said the ban would "fuel the psychosis (over flu) which risks becoming unstoppable," and appealed to the archbishop of Naples to try to have the ban revoked.
Last week, a 51-year-old man became Italy's first fatal victim of the H1N1 flu virus, popularly known as swine flu, when he died in a Naples hospital.
In one of Italy's best-known festivals, Saint Gennaro's dried blood is said to liquefy twice a year, 17 centuries after his death. Some Neapolitans fear disaster may strike the city if the "miracle" does not occur.
Legend has it that when Gennaro was beheaded by pagan Romans in 305 A.D., a Neapolitan woman soaked up his blood with a sponge and preserved it in a glass phial.
The substance usually turns to liquid on September 19, the saint's feast day, and on the first Saturday in May. The "miracle" was first recorded in 1389, more than 1,000 years after Gennaro's martyrdom.
More scientifically minded skeptics say the phenomenon is due to chemicals present in the phial whose viscosity changes when it is stirred or moved.
Italy has not been among the nations hardest hit by the H1N1 flu virus, which has spread to at least 177 countries and caused at least 2,800 deaths, the World Health Organization says.
http://www.reuters.com/article/internal_ReutersNewsRoom_ExclusivesAndWins_MOLT/idUSTRE5872DG20090908
1.Based on the title and the picture, describe in some words, what the text is about.
___________________________________________________________________________________________________________________________.
2.Based on your previous knowledge, what words do you expect to find in the text?
swine flu saint health panic
die virus victims disorder
dying hospital psychologist out of control
3.Read the text, and check whether the statements are true or false.
•According to the text, the Saint´s blood makes miracles.
•Saint Gennaro was hanged by Pagans.
•The festival has become famous during the years.
•Catholicism is these people’s religion.
•Marco di Lello talked to the Archbishop to try to stop the prohibition.
4.Marco Di Lello, national coordinator of the Socialist Party, said the ban would "fuel the psychosis (over flu) which risks becoming unstoppable".
Do you agree that preventing certain costumes in people’s routine can make they become psychotics over flu? What is the limit people should have when preventing their lives from the current problem?
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
5.Complete the sentences taking into consideration what is presented in the article.
a)The prohibition of kissing the glass phial is considered__________________________________________by the church.
b)It is believed that the saint’s blood_________________________________________________________
c)It is said that the real cause for the blood to become liquid in a specific date is_____________________________________________________________
6.Refer to the highlighted words in exercise 5 and fill in the gaps below:
The Present Passive __ formed by VERB BE (am, is, are) + VERB PAST PARTICIPLE.
This verb tense ___ used to focus on ‘what’ rather than ‘who’ and to give importance to the fact and not to the person who is responsible for the action.
7. Complete with the words given in their correct form of the Present Passive:
Take write consider prohibit avoid
a.Articles as “H1N1flu stops Italians kissing saint’s blood” ____ _________ by journalists.
b.Devout Neapolitans ____ ___________from performing the time-honored ritual of kissing the blood of their patron Saint Gennaro.
c.The direct contact with saliva from so many different people ____ _________ a problem, as it can contribute to the infection of the flu.
d.In Brazil and other countries, people who present the symptoms ____ _______ to the hospital as soon as possible.
e.Meetings which provide agglomeration of people ____ _______ in most cities.
8.Knowing that this kind of “miracle” is seen as a fraud and according to the text “More scientifically minded skeptics say the phenomenon is due to chemicals present in the phial whose viscosity changes when it is stirred or moved.” write down why you think they think this way and give your own opinion about this quote.
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
9.“The decision to forbid kissing of the glass phial containing the saint's blood was taken reluctantly by ecclesiastical and city authorities Monday, and has brought protests from local politicians.” Why do you think this decision was taken reluctantly:
( ) Because the church and authorities were worried about population’s healthy
( ) Because politicians were worried about fall in tourism
( ) Because people won’t stop kissing St Gennaro’s glass blood
( ) Because it could cause fall in tourism and it would bring fall in economy, what would be terrible for the politician’s pocket.
10.In the last paragraph “Italy has not been among the nations hardest hit by the H1N1 flu virus, which has spread to at least 177 countries and caused at least 2,800 deaths, the World Health Organization says, there’s a message implicit. If you pay attention, this speech has to be with a political and religious idea. Which message is this?
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Análise da narrativa A casa da paixão
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE LETRAS ESTRAGEIRAS MODERNAS
Análise de narrativa em
“A casa da paixão”, de Nélida Piñon
Andressa Cristina Molinari
Juliana de Lemos
Maria Aparecida Martins da Silva Mizakami
Romelaine Krezanouski Tonelli
Trabalho apresentado à disciplina 6LET042 – Teoria do Texto Literário, ministrada pela Professora Doutora Sueli Leite.
“A Casa da Paixão” – Uma visão introdutória
A análise narrativa apresentada a seguir trabalha o romance de cunho psicológico “A casa da paixão”, escrito por Nélida Cuiñas Piñon e publicado em 1972.
Nélida nasceu no Rio de Janeiro em 3 de maio de 1937. Morou dois anos em Borela, uma aldeia galega e terra natal de seus avós, onde absorveu valores importantes para muitas das suas obras. Começou a escrever para o jornal universitário Unidade e dois anos mais tarde, em 1959, publicou seus primeiros contos.
Uma de suas características mais marcantes é a busca pela expressão através de uma linguagem nova junto a uma sintaxe pessoal, visto que seu discurso literário tende a fundir posições e contrariar valores pré-estabelecidos.
Essa busca pode ser vista já no primeiro romance que publicou, “Guia-mapa de Gabriel Arcanjo”, em 1961, o qual a crítica literária da época considerou uma obra inovadora quanto à linguagem, porém um tanto indecifrável.
Foi justamente seu anseio pela mudança nas formas narrativas conhecidas até então – forma fechada, limitadora e implantadora de um único significado, que Nélida alcançou sucesso como escritora.
Além de escritora, atuou como diretora do Laboratório de Criação Literária na Faculdade de Letras da UFRJ, participou do primeiro documento da sociedade civil contra a ditadura, entregue ao Ministro da Justiça em 1977. Também foi eleita para a Academia Brasileira de Letras em 27 de junho de 1989. Recebeu vários títulos e prêmios em reconhecimento pelo seu talento.
A casa da paixão é construída a fim de rejeitar as formas convencionais, além de possuir uma grandeza de intenções, metáforas que representam as forças mais obscuras e misteriosas da vida.
[...] fosse então a pedra o desenho inventado para servir aos seus deuses quando sobre altar exigente invocariam milagres, também imagens, e eu gritaria para Antônia e o pai ouvirem, sem pedir socorro, a salvação de me perder, a salvação da alma está entre minhas pernas, pressenti já menina, quando os raios exaltados do sol me prenderam, (p.58)
A utilização do erotismo é o recurso principal dessa obra e são apresentadas cenas harmônicas e ao mesmo tempo desarmônicas.
[...] De pé ela abriu as pernas como se ele quisesse abrigar-se entre elas. Jerônimo consentia que suas partes mais vivas se manifestassem, amor é o que meu corpo lhe oferece, seu sexo anunciou. (p.89)
As apresentações e explicações a seguir são referentes aos elementos narrativos contidos na obra, os quais abordam o enredo, personagens, espaço e o tempo.
“A Casa da Paixão” - O Romance e seus elementos
O romance é uma forma de narrativa longa, que envolve personagens e conflitos, e tempo e espaço mais dilatados, que a ela se equivale à epopéia dos tempos antigos. Mas, diferentemente da epopéia, ela se volta para o homem como indivíduo, e não como representação da burguesia.
Essa forma de narração surge na Idade Média com o romance de cavalaria, sem compromisso com relatos de fatos históricos. No Renascimento, aparece como romance pastoril e sentimental, e logo depois, seguido pelo romance barroco, de aventuras e bem diferente desse, o romance picaresco. È, no entanto, em Dom Quixote de Cervantes, que podemos localizar o nascimento da narrativa moderna. (Soares, 2000). A narrativa moderna tem como uma de suas características, a crítica dos costumes ou pela sua temática histórica. Essas formas são ás vezes delineadas e identificáveis, outras, porém, são desestruturadas e camufladas.
O enredo, personagens, espaço, tempo, o ponto de vista da narrativa, formam os elementos estruturais do romance.
A classificação dos tipos de romance é variada. Por serem classificações que dependem do ponto de vista, são passíveis de discussão, porém, o objetivo dessa análise não é discutir esse problema, mas utilizar os tipos como referência para a pesquisa.
Para Lukács, o romance é a forma artística que corresponde à fratura entre o sujeito e o mundo, vivida pelo homem contemporâneo.
Distinguiu György Lukacs três tipos fundamentais de romance: o romance do idealismo abstrato, de personagem demoníaco (personagem-problema), cuja consciência é simples para a complexidade do mundo, ( Dom Quixote); o romance psicológico de herói passivo, cuja alma é demasiadamente larga para se adaptar ao mundo, e o romance pedagógico da renúncia consciente que não é nem resignação nem desespero ( Wilhem Meister, de Goethe).
O Romance abstrato tem como característica a fuga da alienação político-social, esse escapismo é uma forma de mostrar a força do amor, que leva os personagens a se sacrificarem pelo amor idealístico, sem fins lucrativos, onde o fim se dará na amálgama do casamento, ou de forma mais trágica, no exílio, prisão, convento, hospício e na pior das hipóteses, em morte. Nele, o amor é visto como forma de redenção.
O romance psicológico, que tem esse termo atribuído a ele por ter como centro semântico a análise da mente humana. Todos os romances ditos psicológicos têm em comum o entendimento do mundo a partir de uma personagem ou do narrador, que se transforma no lugar dos seus pensamentos. A história de uma consciência a análise psicológica da personagem, proveniente da vida secreta e profunda da individualidade.
O romance educativo ou romance de educação não foi encontrado fontes de pesquisas.
Tempo
A narrativa se desenrolará dentro de um fluxo temporal, tanto no plano da diegese, quanto no discurso, pois eles têm uma sucessão de fatos que apresentam uma cronologia ou não.
Do tempo da diegese, os marcadores temporais são as referências aos dias, meses, anos, horas, estações do ano ou determinada época.
Marta surgia horas mais tarde, até o pai compreender com os anos que antes da filha criar novos caminhos , devia ele inventar outros que fatalmente ele percorreria, sendo ela filha da sua carne. (...) (pg. 10)
Já no discurso, essa medição temporal é mais difícil, pois não há um tempo de leitura fixo. Não há uma coincidência perfeita entre o desenrolar cronológico da diegese e a sucessão, no discurso, dos acontecimentos. Aos desencontros entre a ordem dos acontecimentos do plano da diegese, e a ordem que aparecem narradas no discurso, chamaremos de anacronias, terminologia proposta por Gerard Genette.
Às vezes, o romancista prefere montar o discurso pelo desfecho da diegese, tendo que recuar no tempo, o que é chamado de analepse. “Antônia anunciou menina, o pai sentira o soco no peito, (...)” (pg. 7). “Seguiu-a desde pequena, Antônia assistira a seu nascimento, recriminara o pai pelo olhar, (...)” (pg. 19). “Passava os anos em busca da filha. Nenhuma distração substitui aquela. (...)” (pg. 29).
Os resumos, as elipses, aceleram a narrativa, enquanto as descrições minuciosas de um fato, uma ação ou um gesto podem gerar um tempo do discurso superior ao da diegese, determinando um ritmo lento da narrativa.
Ficaram quietas por muito tempo. Antônia, uma respiração acelerada, (...) Marta compreendia, dizendo, não, eu te salvei entre a placenta, o produto vermelho, de mercado e bosque, te extraí da vagina da mulher e seria fácil te mergulhar novamente no olvido, enfiando tua cabeça na água, ou de volta ás trevas de onde saíste, mas eu te salvei, como se salva o peixe nervoso, as escamas deslizam como navalha, como se escolhe o que ainda não se provou. (pg. 23).
Assim como as descrições minuciosas, as digressões que o narrador insere no discurso, suspendem a progressão da diegese, causando um retardamento da narrativa.
“O pai atrás de arbustos, galhos, sob risco de ferir-se descuidava-se ás vezes, assumindo, afinal, a perseguição.” (...) (pg. 33).
È importante também observarmos a construção do tempo psicológico, da dor, da espera, da angústia. Esse tempo é de natureza subjetiva, designa o modo como a personagem sente fluir o tempo, tempo vivencial.
Essa temporalidade diferente em relação ao tempo do calendário e do relógio, é entretecida num presente que se afunda na memória, as vezes se projeta no futuro, e outras pára e se esvazia.
Caracterizando particularmente a diegese do romance psicológico moderno, um fluxo sem interrupções do tempo psicológico.
(...) E a paixão da minha carne, afinal decidida à força dos raios, é semelhante aos que se destinam à morte. Morte eu queria, pelo prazer, pela agonia de privar com pedras brutas, trabalhadas com língua pelas criaturas religiosas, tanto que as depredaram. (...) (pg. 45)
Para tanto, um dos recursos muito usados nos romances contemporâneos é o monólogo interior. Como todo monólogo, não tem intervenções e se diferencia do monólogo tradicional por apresentar o que há de mais íntimo na personagem, mais próximo do inconsciente e, portanto, sem organização lógica, próximo ao que em psicologia, denomina-se fluxo de consciência.
Portanto, é um monólogo que se desenvolve no íntimo da personagem, muitas vezes, um discurso desordenado, livre de regras gramaticais e pontuação. Da personagem Marta, temos muitas vezes flashes de pensamentos. “Eu me sacrificarei ao sol. Meu corpo está impregnado de musgos, ervas antigas, fizeram mazelas e chá do meu suor, todos da minha casa.” (...) (pg. 45)
Espaço
Também chamado de ambiente, cenário ou localização, o espaço é o conjunto de elementos da paisagem por onde circulam os personagens e se desenrola o enredo.
Essa paisagem pode ser física, ou seja, o espaço onde os personagens se movem.
“(...) tantas vezes a surpreendera em andanças pelos corredores, pulando janelas, perdendo-se nos jardins, (...)” (pg. 9).
Em “A casa da paixão”, os ambientes em que a estória se desenvolve são a casa, o espaço aberto ao redor da casa, e a cidade. A casa era comparada a prisão, algo que a deixava em agonia, por isso preferia a natureza onde se sentia livre para agir como bem quisesse. E por final, a cidade era o inovador, a perspectiva do novo, uma alternativa de liberdade.
Todos os elementos de A casa da paixão estão diretamente ligados a casa onde se passa a história e o ambiente ao redor dela, que guia não só o enredo, mas também seus pensamentos e sentimentos.
Outro espaço também encontrado no romance é o espaço social, o ambiente social em que os personagens se integram. A caracterização deste espaço é feita pela presença de objetos que marcam a classe social da protagonista, como exemplos o piano, “Ao piano ela começava devagar, até que o pai se instalasse ao seu lado, (...)” (pg. 8), o charuto, “Fumava o charuto molhando a ponta no conhaque, até que Marta esquecesse que ele a amava, (...)” (pg. 9), elementos presentes na chamada classe média da época, o charuto, objeto de prazer para empresários, banqueiros e outros. Outro fator também importante é o fato de todos os domingos ir à missa, revelando um traço familiar da classe média; “ No domingo pela manhã escolhia o melhor traje. Assistia à missa obediente ao pai. (...)” (pg. 13).
O ambiente tem conotações físicas e psicológicas; a segunda refere-se ao modo como os personagens enxergam esse ambiente, as sensações que esse ambiente desperta em seus corações, esses aspectos compõem o que se pode chamar de ambiente psicológico.Ele é imprescindível, pois não funciona apenas como plano de fundo, mas influencia diretamente no desenvolvimento do enredo, unindo-se ao tempo.” A casa naufragava na penumbra. (...) Contentava-se com as terras em torno, algo mais avançado do seu corpo. (...) “(pg. 31).
“(...) Iludiu-se brevemente com a natureza, o verde escavava sua alma (...) Logo atingindo o rio, passearia sobre águas, (...) Ela afundou o rosto na terra, brincava com gravetos. (...)” (pg. 33).” (...) Marta atrás, sua corrida era vencer o homem, porque ao sul o pai encostava na cidade, a muralha de Jerusalém, (...)” (pg. 87)
Enredo
O enredo de “A Casa da Paixão”, quarto romance de Nélida Piñon, é mínimo, porém complexo. Em linhas gerais trata-se de uma história aparentemente tradicional – uma jovem em busca da liberdade e autoconhecimento inserida em um ambiente tradicionalista, de costumes antigos. O que torna a narrativa complexa e densa é o forte apelo erótico da obra, paradoxalmente suavizado pela narrativa poética de Nélida, o que permite a algumas expressões vulgares, se usadas no dia-a-dia se tornarem brandas e líricas.
Em “A Casa da Paixão”, quatro personagens atuam na trama: Marta, órfã de mãe e que desejava desbravar os limites de seu corpo; Antônia, sua ama; o pai, que não recebeu nome pela autora, de atitudes ambíguas – ora zeloso, ora apaixonado de forma incestuosa pela filha; Jerônimo, o pretendente escolhido pelo pai para consumar o amor com/de Marta.
A trama inicia-se com Marta em seu momento de adoração ao Sol e suas indagações a despeito de sua missão, enquanto mulher e seu desejo de ser dona de si e entregar-se ao seu destino quando e conforme quisesse. Entretanto, seus anseios enfrentam uma série de obstáculos, obstáculos esses impostos pela tradição da época, representada por seu pai.
Marta, a protagonista, órfã de mãe e criada por Antônia, sua ama, é em muitos momentos da narrativa alvo de desejo para seu pai, que nutria uma amor incestuoso por Marta, amor este que o fazia transpirar e abandonar, mesmo que por alguns instantes, sua racionalidade, a ponto de se comportar como um animal.
Em um determinado ponto da história, esse desejo desenfreado leva o pai a tomar uma decisão: escolher um pretendente para sua filha, o Jerônimo, que passa a habitar a casa da família temporariamente.
O clímax da narrativa se dá na ocasião da escolha de Marta em tornar-se mulher e entregar-se ao seu escolhido – Jerônimo, desbravando assim o seu corpo, sua casa da paixão, chegando ao desfecho da narrativa convencida de pertencer a dois homens – ao Sol e a Jerônimo.
Uma característica muito peculiar da narrativa é a forma como as personagens se relacionam com os elementos da natureza, bem como constantes equiparações à animais, demonstrando clara alusão à uma época anterior à razão, a época da criação:
Da terra, Marta escolhia qualquer recanto. Fechava os olhos tropeçando contra pedras, galhos livres, perdendo às vezes a esperança. Até não suportar o próprio suor e exclamava:
- Aqui conhecerei o repouso. (p.7)
Amava o sol, sob a luz imitava lagarto, passividade que os da própria casa jamais compreenderam, parecendo-lhes proibido que se amasse tanto o que ninguém jamais amara tão devotada. Mal se sentava, as pernas abriam-se escorregadias sobre o solo, exigindo o esforço da pele ressentida, extraía da areia, da grama, o que fosse, sua aspereza. Dava-lhe gosto olhar as pernas escancaradas sem que o homem ocupasse suas coxas, a obrigasse tombar sentindo mágicas contorções. O exercício de usufruir alguma coisa próxima ao prazer distinguia-a. (p.7) [...] Pela identidade que descobriu e a certeza de evoluir sempre que se entregasse exaltada à sua paixão. (p.7-8)
Personagens
Como anteriormente mencionado, são quatro as personagens que integram a trama: Marta, Antônia, o pai, e Jerônimo.
Marta, a protagonista, personagem redonda conforme classificação de Vitor Manuel, de complexidade muito acentuada, é descrita na obra como uma mulher no auge de seu apetite por descobertas sexuais e até mesmo comparada a uma cadela, enaltecendo esse furor correlacionando-o ao cio. Introspectiva, passa quase toda sua vida a adorar o Sol e a se entregar ao seu poder transformador e criador da vida. Nestes momentos de introspecção, Marta deixa-se levar pelas veredas do autoconhecimento, da vontade de ser livre e dona de seu próprio corpo, sua casa da paixão, e de fazer dele (seu corpo) o que quiser e quando quiser.
Já Antônia, personagem secundária, é uma personagem plana, pois é caracterizada substancialmente como aquela que gosta de restos, desleixada, cujos gestos e hábitos se assemelham aos de uma galinha, por sua função limitada à reprodução, (diferente da figura de cadela, associada à Marta, que poderia manter o coito para fins não reprodutivos, apenas pelo cio, desejo):
Antônia foi escorregando para o centro da terra, onde a galinha também nascia, todos da sua espécie eram concebidos deste modo, no ninho coberto de feno, penas, cheiro enfim que Antônia absorvera e agora vivia em sua pele: ali ela ficou muito tempo, severa, até que as pernas sobre o feno se escancararam e imitaram uma galinha na postura do ovo: Marta percebia que de tudo Antônia praticava para assimilar o animal, quem a olhasse não duvidaria, tanta a sua transcendência, como que a velha abdicara de sua figura humana a pretexto de ser a galinha que abandonou a luta após ingente tarefa, seu rosto assinalava o rigor da procriação, tremiam suas bochechas, os dentes, tão dilatada pelo esforço que Marta murmurou: que se consinta à criatura abrir seu ventre para a terra: (...) (p. 25 – 24)
Assim ela se mantém durante a trama toda. Antônia cuida de Marta, a quem ela ajudou a nascer com suas próprias mãos.
Já o pai, cuja ausência de nome revela um forte indício de caricaturização social como um modelo de propriamente de pai, idealizado pela sociedade da época – tradicionalista e zeloso pela honra da filha. Entretanto, personagem modelada, evolui na narrativa a ter seus anseios e seu amor incestuoso revelado. É também antagonista, pois se contrapõe à Marta, protagonista, ao estabelecer limites tradicionalistas a sua fome de liberdade.
Jerônimo, o escolhido pelo pai, numa tentativa de se afastar de Marta e proporcionar-lhe o que tanto queria – “Se é de macho que ela precisa, eu lhe darei” (p. 35), é uma personagem plana, uma vez que permanece a trama toda no papel de macho, aquele a “cruzar” com Antônia e cumprir sua missão no desfecho da história.
Foco Narrativo
No discurso literário de Nélida Piñon, é comum encontrar-se oposições e contrariedades a valores já estabelecidos (conforme citações nesse artigo), como a simbologia cristã e o pensamento clássico, o sagrado e o profano, isso para que o leitor obrigue-se a mergulhar na intriga e perca-se nos mistérios das invenções, da linguagem, da criação. Para ela, o sentido da criação é sondar a idéia de fazer da linguagem um corpo transparente, uma linguagem sagrada de relação com o mundo. Em sua narrativa surge a voz que antecede a tudo isso e sobrevive ao seu significado: [...] pedindo e severa que a chamasse Marta, irmã de Maria, as duas mulheres da Bíblia, testamento antigo ou novo ela não quis saber, sim, será Marta, [...] (p.78)
Em “A casa da paixão”, a autora traz à tona a realidade vivenciada pela mulher durante vários anos, onde ela era subjugada tanto pelo sexo masculino, em sua visão de domínio pleno sobre a mulher enquanto objeto de prazer, quanto pela visão religiosa judaico-cristã da época, onde o corpo da mulher era visto como um “templo” de reprodução, e também a legitimidade da heterossexualidade somente após o casamento religioso. Além dessa crítica, encontra-se certo tom de ironia em alguns trechos do texto em relação ao modo que a mulher começa a responder à estas imposições que lhe eram feitas, onde já previa-se a ruína das mesmas:
[...] morrendo, então, a mulher, deixou-lhe o presságio: Marta, eis a religião, seu último suspiro: Antônia embrulhou a mulher num lençol como não se faz entre cristãos, ditou rezas que os cristãos não admitem, o padre chegando condenou a concentração de cheiros originais em torno da morta, casa difícil é esta, homem, eu lhe digo, cuidado com a filha, se Antônia cuida, Marta se perderá...[...] (p.78)
O texto possui narração onisciente em 3ª pessoa, heterodiegético, cujo intuito é apresentar um ponto de vista imparcial e alheio a todos os acontecimentos que narra, traz uma focalização interna, onde descreve e analisa o comportamento, motivações e sentimentos dos personagens:
[...] uma cabeça livre, sentiu Marta. (p.21).
[...] O pai cerrava as mãos em torno ao livro de missa. Marta era a tortura de sua consciência. (p.17)
A narrativa, por possuir tantas metáforas, parece ter várias intenções, revelando uma visão particular onde a simbologia, a vida e a literatura expressam uma imaginação mítica que alude a época de um passado humano precedente ao progresso da civilização, onde a relação com a natureza era direta, e a intimidade com ela, tão sonhadora:
[...] fosse então a pedra o desenho inventado para servir aos seus deuses quando sobre altar exigente invocariam milagres, também imagens, eu gritaria para Antônia e o pai ouvirem, sem pedir socorro, a salvação de me perder, a salvação da alma está entre minhas pernas, pressenti já menina, quando os raios exaltados do sol me prenderam,[...] (p.58)
O corpo de Marta, a protagonista da estória, é desvelado como “a casa da paixão”, e na intriga, elementos da natureza e sentimentos dos personagens misturam-se, demonstrando as mais diversas sensações e erotização e fantasias:
[...] Ela contemplava o feno quente, juntamente onde o bicho enconstara a parte mais vil do seu corpo, para Marta a mais grata, a ponto de querer enfiar o dedo pelo mesmo caminho que o ovo conheceu, não para sentir o calor que a coisa fechada e silenciosa conservava, mas reconstituir de algum modo a aprendizagem de uma galinha, que Antônia talvez esclarecesse sob o domínio do amor. (p.24-25)
A voz do narrador exerce em “A casa da paixão” a função de representação, pois produz intratextualmente o universo diegético dos personagens Marta, seu pai, Antônia e Jerônimo, nos conduzindo a compreender os fatos, o desenrolar dos mesmos. Não é um texto que deixa dúvidas ao leitor, um texto não confiável, mas os acontecimentos tornam clara qual é a perspectiva de vida de Marta, qual é o desejo do seu pai, suas reações, quem era Antônia, Jerônimo, seus papéis.
O nível de narração é intradiegético, pois acontece no mesmo tempo histórico que é contada a estória, no período onde não poderia haver qualquer pronunciamento erótico, que seria altamente condenável, entretanto, na mente dos personagens é visível darem asas a estes, sem rédeas que os contivesse: [...] Pecado queria, mas atrás vinha o pai,cobrando taxas , um olhar profanando montanhas, suas pernas então os mais ricos vinhedos. (p. 29)
[...] O corpo prateado pelos reflexos de sol, o pai apreciava. (p.34)
[...] eu queria Marta, e na sua frase estava o enigma, situava-se sim, ele, numa imensa parede branca marcada de sangue, regalo de sua abundância mensal, mas jamais o sangue que lhe teria o meu corpo provocado, hemorragia do prazer, se me tivesse ela chamado para participar do festim, eu ingresso em seu corpo, [...] (p.60-61)
Impressões Finais
O erotismo para Nélida é um jogo, que prende o leitor e o tenciona a refletir sobre algo que raramente paramos para contemplar: a criação humana. Esse belíssimo romance sacramenta o cotidiano e santifica o corpo feminino, a grande oferenda. Através do texto rebuscado, a autora expõe sua obsessão e mostra resistência a qualquer sistema que queira aprisionar ou privar parte de sua criação de linguagem. Nas palavras da escritora:
Uma vez que a terra está povoada pelos sentidos humanos, é natural que se impregne o texto da emoção que emana simultaneamente do corpo, do espírito e do mistério. E que passe a ser ato de vida e de rebeldia estética a apropriação do corpo físico e do corpo verbal.
Esta é Nélida Piñon em “A Casa da Paixão”. A que, buscando oferecer um roteiro para a descoberta do nascimento, rasga o tecido da linguagem para, delicada e audaciosamente, suturá-la no âmbito do erotismo dos corpos, do erotismo dos corações, do erotismo sagrado. Na ocasião do lançamento da obra em Portugal em 2007, a escritora declarou: “é um livro que assegura à mulher uma independência extraordinária; ela assume a sua sexualidade mesmo no ato do amor.” (Agência Lusa 03/11/2007)
Referências
AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria e Metodologia Literária. São Paulo: Almedina, 1979.
PIÑON, Nélida. A Casa da Paixão. Rio de Janeiro, Record, 1997.
SOARES, Angélica. Gêneros literários. Série princípios, 6º edição, 2000.
http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/R/romance_psicologico.htm - 08/10/2008
http://www.academia.org.br/ - 01/10/2008
http://www.camaraportuguesa.com.br/default.asp?pag=noticias&id_noticia=11378
5/10/2008 18:26:23
CURSO DE LETRAS ESTRAGEIRAS MODERNAS
Análise de narrativa em
“A casa da paixão”, de Nélida Piñon
Andressa Cristina Molinari
Juliana de Lemos
Maria Aparecida Martins da Silva Mizakami
Romelaine Krezanouski Tonelli
Trabalho apresentado à disciplina 6LET042 – Teoria do Texto Literário, ministrada pela Professora Doutora Sueli Leite.
“A Casa da Paixão” – Uma visão introdutória
A análise narrativa apresentada a seguir trabalha o romance de cunho psicológico “A casa da paixão”, escrito por Nélida Cuiñas Piñon e publicado em 1972.
Nélida nasceu no Rio de Janeiro em 3 de maio de 1937. Morou dois anos em Borela, uma aldeia galega e terra natal de seus avós, onde absorveu valores importantes para muitas das suas obras. Começou a escrever para o jornal universitário Unidade e dois anos mais tarde, em 1959, publicou seus primeiros contos.
Uma de suas características mais marcantes é a busca pela expressão através de uma linguagem nova junto a uma sintaxe pessoal, visto que seu discurso literário tende a fundir posições e contrariar valores pré-estabelecidos.
Essa busca pode ser vista já no primeiro romance que publicou, “Guia-mapa de Gabriel Arcanjo”, em 1961, o qual a crítica literária da época considerou uma obra inovadora quanto à linguagem, porém um tanto indecifrável.
Foi justamente seu anseio pela mudança nas formas narrativas conhecidas até então – forma fechada, limitadora e implantadora de um único significado, que Nélida alcançou sucesso como escritora.
Além de escritora, atuou como diretora do Laboratório de Criação Literária na Faculdade de Letras da UFRJ, participou do primeiro documento da sociedade civil contra a ditadura, entregue ao Ministro da Justiça em 1977. Também foi eleita para a Academia Brasileira de Letras em 27 de junho de 1989. Recebeu vários títulos e prêmios em reconhecimento pelo seu talento.
A casa da paixão é construída a fim de rejeitar as formas convencionais, além de possuir uma grandeza de intenções, metáforas que representam as forças mais obscuras e misteriosas da vida.
[...] fosse então a pedra o desenho inventado para servir aos seus deuses quando sobre altar exigente invocariam milagres, também imagens, e eu gritaria para Antônia e o pai ouvirem, sem pedir socorro, a salvação de me perder, a salvação da alma está entre minhas pernas, pressenti já menina, quando os raios exaltados do sol me prenderam, (p.58)
A utilização do erotismo é o recurso principal dessa obra e são apresentadas cenas harmônicas e ao mesmo tempo desarmônicas.
[...] De pé ela abriu as pernas como se ele quisesse abrigar-se entre elas. Jerônimo consentia que suas partes mais vivas se manifestassem, amor é o que meu corpo lhe oferece, seu sexo anunciou. (p.89)
As apresentações e explicações a seguir são referentes aos elementos narrativos contidos na obra, os quais abordam o enredo, personagens, espaço e o tempo.
“A Casa da Paixão” - O Romance e seus elementos
O romance é uma forma de narrativa longa, que envolve personagens e conflitos, e tempo e espaço mais dilatados, que a ela se equivale à epopéia dos tempos antigos. Mas, diferentemente da epopéia, ela se volta para o homem como indivíduo, e não como representação da burguesia.
Essa forma de narração surge na Idade Média com o romance de cavalaria, sem compromisso com relatos de fatos históricos. No Renascimento, aparece como romance pastoril e sentimental, e logo depois, seguido pelo romance barroco, de aventuras e bem diferente desse, o romance picaresco. È, no entanto, em Dom Quixote de Cervantes, que podemos localizar o nascimento da narrativa moderna. (Soares, 2000). A narrativa moderna tem como uma de suas características, a crítica dos costumes ou pela sua temática histórica. Essas formas são ás vezes delineadas e identificáveis, outras, porém, são desestruturadas e camufladas.
O enredo, personagens, espaço, tempo, o ponto de vista da narrativa, formam os elementos estruturais do romance.
A classificação dos tipos de romance é variada. Por serem classificações que dependem do ponto de vista, são passíveis de discussão, porém, o objetivo dessa análise não é discutir esse problema, mas utilizar os tipos como referência para a pesquisa.
Para Lukács, o romance é a forma artística que corresponde à fratura entre o sujeito e o mundo, vivida pelo homem contemporâneo.
Distinguiu György Lukacs três tipos fundamentais de romance: o romance do idealismo abstrato, de personagem demoníaco (personagem-problema), cuja consciência é simples para a complexidade do mundo, ( Dom Quixote); o romance psicológico de herói passivo, cuja alma é demasiadamente larga para se adaptar ao mundo, e o romance pedagógico da renúncia consciente que não é nem resignação nem desespero ( Wilhem Meister, de Goethe).
O Romance abstrato tem como característica a fuga da alienação político-social, esse escapismo é uma forma de mostrar a força do amor, que leva os personagens a se sacrificarem pelo amor idealístico, sem fins lucrativos, onde o fim se dará na amálgama do casamento, ou de forma mais trágica, no exílio, prisão, convento, hospício e na pior das hipóteses, em morte. Nele, o amor é visto como forma de redenção.
O romance psicológico, que tem esse termo atribuído a ele por ter como centro semântico a análise da mente humana. Todos os romances ditos psicológicos têm em comum o entendimento do mundo a partir de uma personagem ou do narrador, que se transforma no lugar dos seus pensamentos. A história de uma consciência a análise psicológica da personagem, proveniente da vida secreta e profunda da individualidade.
O romance educativo ou romance de educação não foi encontrado fontes de pesquisas.
Tempo
A narrativa se desenrolará dentro de um fluxo temporal, tanto no plano da diegese, quanto no discurso, pois eles têm uma sucessão de fatos que apresentam uma cronologia ou não.
Do tempo da diegese, os marcadores temporais são as referências aos dias, meses, anos, horas, estações do ano ou determinada época.
Marta surgia horas mais tarde, até o pai compreender com os anos que antes da filha criar novos caminhos , devia ele inventar outros que fatalmente ele percorreria, sendo ela filha da sua carne. (...) (pg. 10)
Já no discurso, essa medição temporal é mais difícil, pois não há um tempo de leitura fixo. Não há uma coincidência perfeita entre o desenrolar cronológico da diegese e a sucessão, no discurso, dos acontecimentos. Aos desencontros entre a ordem dos acontecimentos do plano da diegese, e a ordem que aparecem narradas no discurso, chamaremos de anacronias, terminologia proposta por Gerard Genette.
Às vezes, o romancista prefere montar o discurso pelo desfecho da diegese, tendo que recuar no tempo, o que é chamado de analepse. “Antônia anunciou menina, o pai sentira o soco no peito, (...)” (pg. 7). “Seguiu-a desde pequena, Antônia assistira a seu nascimento, recriminara o pai pelo olhar, (...)” (pg. 19). “Passava os anos em busca da filha. Nenhuma distração substitui aquela. (...)” (pg. 29).
Os resumos, as elipses, aceleram a narrativa, enquanto as descrições minuciosas de um fato, uma ação ou um gesto podem gerar um tempo do discurso superior ao da diegese, determinando um ritmo lento da narrativa.
Ficaram quietas por muito tempo. Antônia, uma respiração acelerada, (...) Marta compreendia, dizendo, não, eu te salvei entre a placenta, o produto vermelho, de mercado e bosque, te extraí da vagina da mulher e seria fácil te mergulhar novamente no olvido, enfiando tua cabeça na água, ou de volta ás trevas de onde saíste, mas eu te salvei, como se salva o peixe nervoso, as escamas deslizam como navalha, como se escolhe o que ainda não se provou. (pg. 23).
Assim como as descrições minuciosas, as digressões que o narrador insere no discurso, suspendem a progressão da diegese, causando um retardamento da narrativa.
“O pai atrás de arbustos, galhos, sob risco de ferir-se descuidava-se ás vezes, assumindo, afinal, a perseguição.” (...) (pg. 33).
È importante também observarmos a construção do tempo psicológico, da dor, da espera, da angústia. Esse tempo é de natureza subjetiva, designa o modo como a personagem sente fluir o tempo, tempo vivencial.
Essa temporalidade diferente em relação ao tempo do calendário e do relógio, é entretecida num presente que se afunda na memória, as vezes se projeta no futuro, e outras pára e se esvazia.
Caracterizando particularmente a diegese do romance psicológico moderno, um fluxo sem interrupções do tempo psicológico.
(...) E a paixão da minha carne, afinal decidida à força dos raios, é semelhante aos que se destinam à morte. Morte eu queria, pelo prazer, pela agonia de privar com pedras brutas, trabalhadas com língua pelas criaturas religiosas, tanto que as depredaram. (...) (pg. 45)
Para tanto, um dos recursos muito usados nos romances contemporâneos é o monólogo interior. Como todo monólogo, não tem intervenções e se diferencia do monólogo tradicional por apresentar o que há de mais íntimo na personagem, mais próximo do inconsciente e, portanto, sem organização lógica, próximo ao que em psicologia, denomina-se fluxo de consciência.
Portanto, é um monólogo que se desenvolve no íntimo da personagem, muitas vezes, um discurso desordenado, livre de regras gramaticais e pontuação. Da personagem Marta, temos muitas vezes flashes de pensamentos. “Eu me sacrificarei ao sol. Meu corpo está impregnado de musgos, ervas antigas, fizeram mazelas e chá do meu suor, todos da minha casa.” (...) (pg. 45)
Espaço
Também chamado de ambiente, cenário ou localização, o espaço é o conjunto de elementos da paisagem por onde circulam os personagens e se desenrola o enredo.
Essa paisagem pode ser física, ou seja, o espaço onde os personagens se movem.
“(...) tantas vezes a surpreendera em andanças pelos corredores, pulando janelas, perdendo-se nos jardins, (...)” (pg. 9).
Em “A casa da paixão”, os ambientes em que a estória se desenvolve são a casa, o espaço aberto ao redor da casa, e a cidade. A casa era comparada a prisão, algo que a deixava em agonia, por isso preferia a natureza onde se sentia livre para agir como bem quisesse. E por final, a cidade era o inovador, a perspectiva do novo, uma alternativa de liberdade.
Todos os elementos de A casa da paixão estão diretamente ligados a casa onde se passa a história e o ambiente ao redor dela, que guia não só o enredo, mas também seus pensamentos e sentimentos.
Outro espaço também encontrado no romance é o espaço social, o ambiente social em que os personagens se integram. A caracterização deste espaço é feita pela presença de objetos que marcam a classe social da protagonista, como exemplos o piano, “Ao piano ela começava devagar, até que o pai se instalasse ao seu lado, (...)” (pg. 8), o charuto, “Fumava o charuto molhando a ponta no conhaque, até que Marta esquecesse que ele a amava, (...)” (pg. 9), elementos presentes na chamada classe média da época, o charuto, objeto de prazer para empresários, banqueiros e outros. Outro fator também importante é o fato de todos os domingos ir à missa, revelando um traço familiar da classe média; “ No domingo pela manhã escolhia o melhor traje. Assistia à missa obediente ao pai. (...)” (pg. 13).
O ambiente tem conotações físicas e psicológicas; a segunda refere-se ao modo como os personagens enxergam esse ambiente, as sensações que esse ambiente desperta em seus corações, esses aspectos compõem o que se pode chamar de ambiente psicológico.Ele é imprescindível, pois não funciona apenas como plano de fundo, mas influencia diretamente no desenvolvimento do enredo, unindo-se ao tempo.” A casa naufragava na penumbra. (...) Contentava-se com as terras em torno, algo mais avançado do seu corpo. (...) “(pg. 31).
“(...) Iludiu-se brevemente com a natureza, o verde escavava sua alma (...) Logo atingindo o rio, passearia sobre águas, (...) Ela afundou o rosto na terra, brincava com gravetos. (...)” (pg. 33).” (...) Marta atrás, sua corrida era vencer o homem, porque ao sul o pai encostava na cidade, a muralha de Jerusalém, (...)” (pg. 87)
Enredo
O enredo de “A Casa da Paixão”, quarto romance de Nélida Piñon, é mínimo, porém complexo. Em linhas gerais trata-se de uma história aparentemente tradicional – uma jovem em busca da liberdade e autoconhecimento inserida em um ambiente tradicionalista, de costumes antigos. O que torna a narrativa complexa e densa é o forte apelo erótico da obra, paradoxalmente suavizado pela narrativa poética de Nélida, o que permite a algumas expressões vulgares, se usadas no dia-a-dia se tornarem brandas e líricas.
Em “A Casa da Paixão”, quatro personagens atuam na trama: Marta, órfã de mãe e que desejava desbravar os limites de seu corpo; Antônia, sua ama; o pai, que não recebeu nome pela autora, de atitudes ambíguas – ora zeloso, ora apaixonado de forma incestuosa pela filha; Jerônimo, o pretendente escolhido pelo pai para consumar o amor com/de Marta.
A trama inicia-se com Marta em seu momento de adoração ao Sol e suas indagações a despeito de sua missão, enquanto mulher e seu desejo de ser dona de si e entregar-se ao seu destino quando e conforme quisesse. Entretanto, seus anseios enfrentam uma série de obstáculos, obstáculos esses impostos pela tradição da época, representada por seu pai.
Marta, a protagonista, órfã de mãe e criada por Antônia, sua ama, é em muitos momentos da narrativa alvo de desejo para seu pai, que nutria uma amor incestuoso por Marta, amor este que o fazia transpirar e abandonar, mesmo que por alguns instantes, sua racionalidade, a ponto de se comportar como um animal.
Em um determinado ponto da história, esse desejo desenfreado leva o pai a tomar uma decisão: escolher um pretendente para sua filha, o Jerônimo, que passa a habitar a casa da família temporariamente.
O clímax da narrativa se dá na ocasião da escolha de Marta em tornar-se mulher e entregar-se ao seu escolhido – Jerônimo, desbravando assim o seu corpo, sua casa da paixão, chegando ao desfecho da narrativa convencida de pertencer a dois homens – ao Sol e a Jerônimo.
Uma característica muito peculiar da narrativa é a forma como as personagens se relacionam com os elementos da natureza, bem como constantes equiparações à animais, demonstrando clara alusão à uma época anterior à razão, a época da criação:
Da terra, Marta escolhia qualquer recanto. Fechava os olhos tropeçando contra pedras, galhos livres, perdendo às vezes a esperança. Até não suportar o próprio suor e exclamava:
- Aqui conhecerei o repouso. (p.7)
Amava o sol, sob a luz imitava lagarto, passividade que os da própria casa jamais compreenderam, parecendo-lhes proibido que se amasse tanto o que ninguém jamais amara tão devotada. Mal se sentava, as pernas abriam-se escorregadias sobre o solo, exigindo o esforço da pele ressentida, extraía da areia, da grama, o que fosse, sua aspereza. Dava-lhe gosto olhar as pernas escancaradas sem que o homem ocupasse suas coxas, a obrigasse tombar sentindo mágicas contorções. O exercício de usufruir alguma coisa próxima ao prazer distinguia-a. (p.7) [...] Pela identidade que descobriu e a certeza de evoluir sempre que se entregasse exaltada à sua paixão. (p.7-8)
Personagens
Como anteriormente mencionado, são quatro as personagens que integram a trama: Marta, Antônia, o pai, e Jerônimo.
Marta, a protagonista, personagem redonda conforme classificação de Vitor Manuel, de complexidade muito acentuada, é descrita na obra como uma mulher no auge de seu apetite por descobertas sexuais e até mesmo comparada a uma cadela, enaltecendo esse furor correlacionando-o ao cio. Introspectiva, passa quase toda sua vida a adorar o Sol e a se entregar ao seu poder transformador e criador da vida. Nestes momentos de introspecção, Marta deixa-se levar pelas veredas do autoconhecimento, da vontade de ser livre e dona de seu próprio corpo, sua casa da paixão, e de fazer dele (seu corpo) o que quiser e quando quiser.
Já Antônia, personagem secundária, é uma personagem plana, pois é caracterizada substancialmente como aquela que gosta de restos, desleixada, cujos gestos e hábitos se assemelham aos de uma galinha, por sua função limitada à reprodução, (diferente da figura de cadela, associada à Marta, que poderia manter o coito para fins não reprodutivos, apenas pelo cio, desejo):
Antônia foi escorregando para o centro da terra, onde a galinha também nascia, todos da sua espécie eram concebidos deste modo, no ninho coberto de feno, penas, cheiro enfim que Antônia absorvera e agora vivia em sua pele: ali ela ficou muito tempo, severa, até que as pernas sobre o feno se escancararam e imitaram uma galinha na postura do ovo: Marta percebia que de tudo Antônia praticava para assimilar o animal, quem a olhasse não duvidaria, tanta a sua transcendência, como que a velha abdicara de sua figura humana a pretexto de ser a galinha que abandonou a luta após ingente tarefa, seu rosto assinalava o rigor da procriação, tremiam suas bochechas, os dentes, tão dilatada pelo esforço que Marta murmurou: que se consinta à criatura abrir seu ventre para a terra: (...) (p. 25 – 24)
Assim ela se mantém durante a trama toda. Antônia cuida de Marta, a quem ela ajudou a nascer com suas próprias mãos.
Já o pai, cuja ausência de nome revela um forte indício de caricaturização social como um modelo de propriamente de pai, idealizado pela sociedade da época – tradicionalista e zeloso pela honra da filha. Entretanto, personagem modelada, evolui na narrativa a ter seus anseios e seu amor incestuoso revelado. É também antagonista, pois se contrapõe à Marta, protagonista, ao estabelecer limites tradicionalistas a sua fome de liberdade.
Jerônimo, o escolhido pelo pai, numa tentativa de se afastar de Marta e proporcionar-lhe o que tanto queria – “Se é de macho que ela precisa, eu lhe darei” (p. 35), é uma personagem plana, uma vez que permanece a trama toda no papel de macho, aquele a “cruzar” com Antônia e cumprir sua missão no desfecho da história.
Foco Narrativo
No discurso literário de Nélida Piñon, é comum encontrar-se oposições e contrariedades a valores já estabelecidos (conforme citações nesse artigo), como a simbologia cristã e o pensamento clássico, o sagrado e o profano, isso para que o leitor obrigue-se a mergulhar na intriga e perca-se nos mistérios das invenções, da linguagem, da criação. Para ela, o sentido da criação é sondar a idéia de fazer da linguagem um corpo transparente, uma linguagem sagrada de relação com o mundo. Em sua narrativa surge a voz que antecede a tudo isso e sobrevive ao seu significado: [...] pedindo e severa que a chamasse Marta, irmã de Maria, as duas mulheres da Bíblia, testamento antigo ou novo ela não quis saber, sim, será Marta, [...] (p.78)
Em “A casa da paixão”, a autora traz à tona a realidade vivenciada pela mulher durante vários anos, onde ela era subjugada tanto pelo sexo masculino, em sua visão de domínio pleno sobre a mulher enquanto objeto de prazer, quanto pela visão religiosa judaico-cristã da época, onde o corpo da mulher era visto como um “templo” de reprodução, e também a legitimidade da heterossexualidade somente após o casamento religioso. Além dessa crítica, encontra-se certo tom de ironia em alguns trechos do texto em relação ao modo que a mulher começa a responder à estas imposições que lhe eram feitas, onde já previa-se a ruína das mesmas:
[...] morrendo, então, a mulher, deixou-lhe o presságio: Marta, eis a religião, seu último suspiro: Antônia embrulhou a mulher num lençol como não se faz entre cristãos, ditou rezas que os cristãos não admitem, o padre chegando condenou a concentração de cheiros originais em torno da morta, casa difícil é esta, homem, eu lhe digo, cuidado com a filha, se Antônia cuida, Marta se perderá...[...] (p.78)
O texto possui narração onisciente em 3ª pessoa, heterodiegético, cujo intuito é apresentar um ponto de vista imparcial e alheio a todos os acontecimentos que narra, traz uma focalização interna, onde descreve e analisa o comportamento, motivações e sentimentos dos personagens:
[...] uma cabeça livre, sentiu Marta. (p.21).
[...] O pai cerrava as mãos em torno ao livro de missa. Marta era a tortura de sua consciência. (p.17)
A narrativa, por possuir tantas metáforas, parece ter várias intenções, revelando uma visão particular onde a simbologia, a vida e a literatura expressam uma imaginação mítica que alude a época de um passado humano precedente ao progresso da civilização, onde a relação com a natureza era direta, e a intimidade com ela, tão sonhadora:
[...] fosse então a pedra o desenho inventado para servir aos seus deuses quando sobre altar exigente invocariam milagres, também imagens, eu gritaria para Antônia e o pai ouvirem, sem pedir socorro, a salvação de me perder, a salvação da alma está entre minhas pernas, pressenti já menina, quando os raios exaltados do sol me prenderam,[...] (p.58)
O corpo de Marta, a protagonista da estória, é desvelado como “a casa da paixão”, e na intriga, elementos da natureza e sentimentos dos personagens misturam-se, demonstrando as mais diversas sensações e erotização e fantasias:
[...] Ela contemplava o feno quente, juntamente onde o bicho enconstara a parte mais vil do seu corpo, para Marta a mais grata, a ponto de querer enfiar o dedo pelo mesmo caminho que o ovo conheceu, não para sentir o calor que a coisa fechada e silenciosa conservava, mas reconstituir de algum modo a aprendizagem de uma galinha, que Antônia talvez esclarecesse sob o domínio do amor. (p.24-25)
A voz do narrador exerce em “A casa da paixão” a função de representação, pois produz intratextualmente o universo diegético dos personagens Marta, seu pai, Antônia e Jerônimo, nos conduzindo a compreender os fatos, o desenrolar dos mesmos. Não é um texto que deixa dúvidas ao leitor, um texto não confiável, mas os acontecimentos tornam clara qual é a perspectiva de vida de Marta, qual é o desejo do seu pai, suas reações, quem era Antônia, Jerônimo, seus papéis.
O nível de narração é intradiegético, pois acontece no mesmo tempo histórico que é contada a estória, no período onde não poderia haver qualquer pronunciamento erótico, que seria altamente condenável, entretanto, na mente dos personagens é visível darem asas a estes, sem rédeas que os contivesse: [...] Pecado queria, mas atrás vinha o pai,cobrando taxas , um olhar profanando montanhas, suas pernas então os mais ricos vinhedos. (p. 29)
[...] O corpo prateado pelos reflexos de sol, o pai apreciava. (p.34)
[...] eu queria Marta, e na sua frase estava o enigma, situava-se sim, ele, numa imensa parede branca marcada de sangue, regalo de sua abundância mensal, mas jamais o sangue que lhe teria o meu corpo provocado, hemorragia do prazer, se me tivesse ela chamado para participar do festim, eu ingresso em seu corpo, [...] (p.60-61)
Impressões Finais
O erotismo para Nélida é um jogo, que prende o leitor e o tenciona a refletir sobre algo que raramente paramos para contemplar: a criação humana. Esse belíssimo romance sacramenta o cotidiano e santifica o corpo feminino, a grande oferenda. Através do texto rebuscado, a autora expõe sua obsessão e mostra resistência a qualquer sistema que queira aprisionar ou privar parte de sua criação de linguagem. Nas palavras da escritora:
Uma vez que a terra está povoada pelos sentidos humanos, é natural que se impregne o texto da emoção que emana simultaneamente do corpo, do espírito e do mistério. E que passe a ser ato de vida e de rebeldia estética a apropriação do corpo físico e do corpo verbal.
Esta é Nélida Piñon em “A Casa da Paixão”. A que, buscando oferecer um roteiro para a descoberta do nascimento, rasga o tecido da linguagem para, delicada e audaciosamente, suturá-la no âmbito do erotismo dos corpos, do erotismo dos corações, do erotismo sagrado. Na ocasião do lançamento da obra em Portugal em 2007, a escritora declarou: “é um livro que assegura à mulher uma independência extraordinária; ela assume a sua sexualidade mesmo no ato do amor.” (Agência Lusa 03/11/2007)
Referências
AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel. Teoria e Metodologia Literária. São Paulo: Almedina, 1979.
PIÑON, Nélida. A Casa da Paixão. Rio de Janeiro, Record, 1997.
SOARES, Angélica. Gêneros literários. Série princípios, 6º edição, 2000.
http://www2.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/R/romance_psicologico.htm - 08/10/2008
http://www.academia.org.br/ - 01/10/2008
http://www.camaraportuguesa.com.br/default.asp?pag=noticias&id_noticia=11378
5/10/2008 18:26:23
Assinar:
Postagens (Atom)