domingo, 2 de maio de 2010

Oralidade x Língua de sinais

SURDEZ
ORALIDADE X LÍNGUA DE SINAIS


ANDRESSA CRISTINA MOLINARI
JULIANA DE LEMOS


Londrina
2010

Voltando à história, o surdo não era considerado humano pelo fato de não possuir linguagem (Moura, 2000), já que esta se desenvolvia com a fala que o surdo não possuía. A idéia de não ser humano decorria do pressuposto de que o pensamento não podia se desenvolver sem linguagem. Sua humanização dependia exclusivamente da habilidade oral que era desenvolvida através do treino de frases prontas.
A partir do século XIV, os educadores passam a considerar a possibilidade da comunicação com o surdo através de uma língua que se baseava no uso de sinais. Uma evidência disso é Pedro Ponce de León que demonstrou que o surdo, ao contrário do que todos pensavam, era capaz de aprender e de raciocinar. Apesar dessa reviravolta, e dos sinais começarem a serem usados, muitos ainda acreditavam que o foco deveria ser na oralidade, uma vez que o surdo vive em um mundo de maioria ouvinte. Portanto, sem a fala, não seria capaz de viver em sociedade.
No filme “Seu nome é Jonas” é possível encontrar sinais que nos levam a afirmar que o preconceito contra o surdo ainda persiste. Para Johann Conrad Amman, por exemplo, o surdo era “pouco diferente de animais” (Lane, 1989). Traços desse pensamento são reconhecidos no momento em que o médico da família de Jonas o diagnostica como “retardado”.
Na tentativa de desenvolver a oralidade de Jonas, lhe é dado um aparelho auditivo que foi recebido com preconceito pelo pai. Tal atitude representa o que infelizmente é comum desde os tempos remotos até a sociedade moderna; o medo do diferente.
As tentativas de oralizar Jonas não estavam tendo resultado. Jonas vivia em um mundo sem língua alguma, incapacitado de abstrair conceitos básicos, como por exemplo, o medo adquirido do personagem "Homem Aranha", visto pelo irmão como herói e por Jonas, um perigo a ser combatido. Essa alienação a que Jonas estava submetido também pode ser vista na fala de Maria (Estudos Surdos 1. Quadros, Ronice Muller de. Cap. 6, pg. 192.)

Antes era calado. Era um silêncio total. Eu não aprendi nada durante muito tempo. Só havia bocas abrindo e fechando. Eu era triste, diferente. Não era só eu. Todos os surdos eram iguais. Surdo não participava de nada, não dava opinião, não aprendia nada.

Levado a uma escola oralista, Jonas é impedido de tentar sua comunicação por sinais. A diretora afirmava que o mundo não era feito para surdos, portanto, ele deveria se adaptar a realidade da maioria. Apesar dos esforços de se oralizar o surdo a fim de igualá-lo perante a sociedade, não é possível uma vez que mesmo aqueles que desenvolvam resquícios de fala, a minoria, não atingirão uma proficiência na língua alvo. “A fala do surdo o denuncia” e aquilo que deveria igualá-lo o leva a dificuldades extremas de adaptação.


É comum as pessoas sentirem certo desconforto ao ter contato com uma pessoa surda. Isso acontece porque não sabem agir diante da situação. Por conhecer apenas os falsos conceitos existentes em relação aos surdos, muitos tendem a se afastar, consideram muito difícil ter contato e acabam por desistir. Esses estereótipos, de que os surdos são limitados para o convívio social, são quebrados a partir da aproximação, e tentativa de compreensão da cultura deles.
A dificuldade que famílias têm de conviver com um membro surdo, se dá ao fato de que se acredita que só a partir da oralidade é que a identidade do surdo aparece, sendo possível a relação afetiva entre eles. Uma vez que essa relação não acontece, ocorre o distanciamento e a exclusão, como foi o caso do pai de Jonas, que apresentava muita dificuldade de se comunicar com o filho e por isso achava que ele deveria ser internado e viver longe da sociedade.
É sabido que as tentativas de oralização fracassaram, pois falar não fazia parte da identidade do surdo e as práticas de frases prontas as quais os surdos eram submetidos eram facilmente esquecidas. Abbé de L’Epée, um dos precursores do uso da língua de sinais foi capaz de reconhecer que os surdos possuíam uma língua, e foi capaz de montar seu próprio sistema para a educação do surdo. Através dessa visão, os surdos passaram a ocupar a categoria humana.
O surdo é considerado como possuidor de uma cultura própria, cultura essa que é fundamentada principalmente na sua maneira de comunicação. Eles possuem uma comunicação espaço-visual que substitui a audição e à fala.
Eles pertencem a um grupo liguistico-cultural distinto da maioria e são comparados aos imigrantes, mas por não terem uma forma de recepção oral estão em desvantagem em relação aos imigrantes e sua produção oral não pode se comparar a de um ouvinte.
Ao contrário do que nós pensamos a cultura surda não é e não deve ser considerada como inferior. A cultura surda, a exemplo do que Carlos Skliar diz, baseando- se em Hegel é diferente por ter suas características próprias.
Como educadores e mais do que isso, como cidadãos devemos ter a consciência e o conhecimento de que o surdo não é um “estranho”, mas sim alguém que se utiliza de outras formas de comunicação, sem ser a oralidade. A importância de se conhecer a surdez é de se fazer possível quebrar a barreira de preconceito e não vê-lo como excepcional. Nossa visão como profissionais da educação é a de que precisamos conhecer a língua de sinais para interagir com o surdo e que estes, por sua vez devem ter por direito aprender a língua para o convívio com sua comunidade, a comunidade surda. A partir do momento que é possível estabelecer comunicação entre surdos e ouvintes, através do trabalho conjunto entre intérpretes, professores e alunos teremos uma concepção mais clara do que é ser surdo, pois seu relacionamento não deve se restringir apenas aos intérpretes.

Referências Bibliográficas

QUADROS, R.M. O tradutor e intérprete de Língua de Sinais Brasileirae língua portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos – Brasília: MEC; SEESP, 2004.

SKLIAR, Carlos. A inclusão que é ―nossa‖ e a diferença que é do ―outro‖

SOUZA, Ely; MACÊDO, Josenete Ribeiro. Inclusão Social do Surdo: Um desafio à sociedade, aos profissionais e a educação. Belém do Pará, 2002. Disponível em: Acesso em 03/02/2009.

Filme “Seu Nome é Jonas”.

MOURA, Maria Cecília, O Surdo: Caminhos para uma Nova Identidade. Rio de Janeiro, 2000. Fapesp.

QUADROS, Ronisse Muller. Estudos Surdos I. Capítulo 6, Um Estranho no Ninho: um estudo psicanalítico sobre a constituição sobre da subjetividade do sujeito surdo.

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